PAIS EM TELETRABALHO ACUSAM CANSAÇO, PERDA DE APETITE, OBSESSÃO POR LIMPEZA E DEPRESSÃO

“Como éramos felizes e não  sabíamos antes de tudo isso acontecer”, desabafa Danielle Diniz, advogada, mãe de 2 filhos, uma de 18 e o mais novo com 8 anos, esposa, tia, incansável estudante.

Estou em casa enlouquecendo tendo que estudar com as mudanças recorrentes das Leis Trabalhistas, dar conta  dos afazeres domésticos e também assessorar o filho mais novo, na sua nova rotina de estudos em casa, utilizando meios virtuais para assistir às vídeo aulas, o acesso aos fóruns com a participação de professores e colegas de turma, utilizando as mais modernas tecnologias na tentativa dar continuidade com excelência ao programa pedagógico exigido pelo MEC.

Em meio a mudanças comportamentais tão drásticas, consegui refletir sobre as doenças psicossomáticas  que virão, após essa pandemia de isolamento social e pânico ao assistir aos noticiários sobre o COVID-19.

Esse panorama, a curto e médio  prazo,  trará muitos casos de depressão, suicídio, ansiedade e vários outras enfermidades na saúde mental, pois somos seres relacionais e estamos trancafiados em nossas casas trabalhando e assessorando os filhos.

Numa primeira análise, o home office e o Teletrabalho são muito bons  por alguns dias e quando a pessoa/colaborador/trabalhador, reside em uma casa grande com uma estrutura de escritório, pois ficar em casa laborando,  o marido e a mulher. na frente do computador e falando ao telefone o dia todo com a Empresa e clientes,  não é nada saudável para o relacionamento conjugal e familiar.

Antes do advento das tecnologias remotas, era muito fácil  cumprir a carga horária pactuada com o Empregador, porém, hoje com aplicativos, como por exemplo, o WhatsApp, há o elastecimento do seu horário de trabalho mesmo após você ter cumprido a sua jornada diária. Para mim e para o meu marido está sendo desafiador nos adaptarmos a essa nova rotina de trabalho virtual, pois precisamos inserir a rotina de uma casa funcional em nossa nova etapa profissional que a quarentena está nos impondo.

Além disso, os filhos também estão em  casa com os pais, porém, continuam sem a devida  atenção, porque os responsáveis financeiros do lar estão trabalhando a todo vapor para dar conta da demanda laboral, para colher dali o sustento da família e os filhos empenhados nas tarefas pedagógicas, nos “games” e nas redes sociais (é lógico!)

Apesar de  você estar  dentro da sua casa, a sua liberdade foi cerceada, pois não se pode falar alto, escutar música alta, ficar transitando em frente às salas de reuniões virtuais que estão com a câmera aberta, ouvir seu filho tocar um instrumento musical, dar uma bronca em alguém ou, até mesmo, seu cachorro fica impedido de latir, porque  está rolando uma reunião de trabalho do seu marido ou da sua mulher e os que estão do outro lado da tela  do notebook esperam que, o ambiente no qual o profissional esteja, seja um ambiente silencioso, igual ao de um escritório empresarial, esquecem que todos estão em casa.

Numa análise rasa, estamos fazendo tudo errado, caminhando para escravidão virtual e isolamento social e a crescente e rotineira falta de atenção com os que estão muito próximos de nós, neste caso do texto, nossos tesouros, que são nossos filhos.

Ontem o meu marido falou tanto com os colaboradores da empresa que ele trabalha por meio do smartfone e do notebook, que no final do dia eu estava com minha cabeça explodindo e pedi que fizessem silêncio em casa,  porque estava à beira de um ataque de nervos!!!

Por sua vez, depois dessa pandemia muitas empresas e escolas adotarão as inúmeras ferramentas virtuais para ministração de  aulas e trabalho à distância, o que tornará cada vez mais o isolamento uma regra e também o argumento de poder ser mais barato para os pais sem necessidade de deslocamento e mais cômodo para os colaboradores.

O universo de especialistas da psiquiatria  é pequeno para cuidar dessa população que já está acometida de muitas patologias mentais  e que está caminhando para aumentar ainda mais  o número de pacientes que precisarão se render a uma consulta com esse profissional que até hoje é tido como “médico para os loucos”, ledo engano!

O teletrabalho e o homeoffice  deveriam ser fiscalizados e adotadas medidas pela OMS, com o cunho de proteger o colaborador/empregado e também a saúde emocional dos que habitam a mesma casa em que é feito de escritório tendo estrutura ou não, parece que estou falando utopia, mas advirto aos colegas, operadores do Direito, que o mundo está caminhando para o crescente número de horas de trabalho infindáveis, assim como para o crescente número de trabalhadores diagnosticados com Bournot, a doença causada pelo excesso de trabalho cobrado pelas empresas.

A sociedade de trabalhadores está perdendo a qualidade de vida, se dedicando muito ao trabalho, às vezes, ultrapassamos às 12 horas diárias, pois temos um escritório em casa por 24 horas por dia, 7 dias por semana, porque é desse negócio que garantimos o nosso ganha pão e por esse mesmo motivo não temos tempo de qualidade para brincarmos com os filhos, praticar um esporte, visitar um amigo ou parente no meio da semana, entre outras sugestões de lazer.

Esse momento de pandemia e confinamento social tem me feito pensar demais nos moldes que estamos vivendo, estamos nos tornando escravos do trabalho  para termos um pouco de conforto que, às vezes, nem tempo temos para usufruir e pagarmos terapias e medicamentos para tentarmos ostentar a boa saúde mental.

Estamos  doentes procurando demais algumas riquezas que não nos garantem felicidade!!!  Repense no que tem sido prioridade para você.

Por Dra. Danielle Diniz & Dra. Mônica Gandra Maher
@cantanheidegandra