Especialista comenta desafios e necessidade de oportunidades equitativas
Os editais são uma forma de organizações, principalmente as sem fins lucrativos, se inscreverem para obter recursos financeiros, possibilitando a execução de projetos. No entanto, quanto menor o tamanho da ONG, maior a dificuldade de financiamento via editais, aponta pesquisa da Iniciativa PIPA em parceria com a Phomenta, com 222 entidades participantes.
Segundo o estudo, realizado entre março e julho de 2023, 59% das organizações nano – sem nenhuma pessoa contratada – não obtêm sucesso na captação de recursos via edital. Porém, esse número reduz para 20% quando se trata de ONGs de médio ou grande porte – que têm mais de sete colaboradores contratados.
“A falta de estrutura administrativa e experiência na elaboração de projetos dificultam a capacidade de ONGs menores navegarem pelos processos burocráticos, cumprirem requisitos técnicos e apresentarem evidências robustas de impacto, o que as posiciona de forma menos competitiva frente às oportunidades de financiamento”, afirma Vanessa Pires, especialista em incentivo fiscal e CEO da Brada, startup especializada em buscar investimentos sociais.
A estrutura também influencia no volume de dinheiro captado, mostra o levantamento. Dentre organizações contempladas com mais de 50 mil reais, 18% são nano, 32% mini, 55% pequena e 66% média ou grande. Ou seja, ONGs nano têm quase quatro vezes menos participação nas maiores fatias dos recursos alcançados via editais.
Para a especialista, a distribuição desigual de recursos evidencia uma estrutura de financiamento que, muitas vezes, favorece organizações já estabelecidas: “Essa disparidade perpetua um ciclo em que entidades maiores continuam a crescer e dominar o cenário, enquanto as menores lutam para sobreviver, podendo causar a homogeneização das intervenções e a diminuição da diversidade de abordagens no setor”.
Ao mesmo tempo que as ONGs pequenas têm mais dificuldade de financiamento, elas também dependem mais do recurso para compor o orçamento. De acordo com a pesquisa, o dinheiro captado em editais corresponde de 50% a 70% da verba de 25% das nano organizações, contra 5% das 25% médias e grandes.
Segundo Vanessa, para muitas ONGs, em especial as pequenas, um edital bem-sucedido pode ser a diferença entre continuar a missão ou fechar as portas: “Editais são mais do que apenas recursos, são uma chance de sobrevivência para organizações crescerem e ampliarem o impacto”.
Por fim, ela ressalta que a distribuição equitativa de recursos não é só uma questão de justiça, mas de eficiência: “Grandes ONGs possuem visibilidade e escala para impactar milhares, porém, muitas vezes, são as pequenas que penetram nas frestas e alcançam as comunidades mais vulneráveis. Ambas merecem oportunidades de captação igualitárias pois, juntas, tecem mudanças positivas na sociedade”.